O Que Esperamos Na Ágora Reunidos?
O Que Esperamos Na Ágora Reunidos?
Diálogo poético
impertinente e aberto com Konstantinos Kaváfis. Ideias em busca de idéias. Uma
jornada feita de encontros do Projeto Teatro Vocacional.
O que esperamos na Ágora reunidos?
É que os bárbaros chegam hoje.
E o que esperávamos reunidos nas assembléias do ano passado?...
Por que tanta animosidade nos rostos sombrios?
Por que a palavra presa na garganta? Esse desejo
de resposta?...
Os coordenadores não legislam mais?
É que
os bárbaros chegam hoje.
Que leis
hão de fazer os coordenadores?
Os
bárbaros que chegam as farão.
Uma
busca por respostas que alimentaram outras perguntas. Os bárbaros anunciados
por Kaváfis teriam as respostas (ou as perguntas)?...Nos reunimos muitas vezes
à espera de encontrar soluções. Foi um processo que se fez por meio de reuniões
gerais, na busca de se constituir um corpo uno de pensamento e desejo...
Lembra, corpo, não só o quanto
foste amado,
não só os leitos onde
repousaste,
mas também os desejos que
brilharam
por ti em outros olhos,
claramente,
e que tornaram a voz trêmula –
e que algum
obstáculo casual fez malograr.
Vi
o meu interesse, ao assumir nesse ano a coordenação do Projeto Teatro, em
recuperar um espaço de reflexão e discussão, que foi fundamental nas ações
políticas das assembléias do ano passado. Mas, como vamos nos reunir novamente
na Ágora?... Para falar exatamente sobre o quê? Para esperar o quê? E de quem?...
Não
podíamos retomar o caminho a Ítaca naquelas condições, temerosos de encontrar
na nossa jornada Lestrigões e
Ciclopes, ou de sermos intimidados pelo furioso Poseidon. Não iríamos
encontrá-los durante a caminhada somente se o pensamento estivesse elevado, se
a emoção jamais abandonasse os
nossos corpos e nosso espírito. Lestrigões, Ciclopes, e o furioso Poseidon apenas
não estariam em nosso caminho se nós não os carregássemos em nossa alma. Se a nossa alma não os
colocassem diante de nossos passos.
Foram quatro reuniões do Projeto Teatro. Quatro erupções de
um processo que começou com um Open Space, uma maneira de dar voz e rumos aos
caminhos e as rotas que não sabíamos ainda como traçar. Só sabíamos que a
jornada de regresso em direção a Ítaca seria longa,
repleta de aventuras, plena de conhecimento. E que não podíamos apressar os nossos passos; era melhor que
a jornada demorasse muitos anos e que nosso barco só ancorasse na ilha quando nós
já tivéssemos enriquecido com o que conhecemos ao longo do caminho.
O processo foi realmente lento e
cuidadoso. Levamos dois meses singrando mares de proposições levantadas no Open
Space até aportar na segunda reunião. Conversamos e ouvimos bastante os
artistas das equipes. Procuramos visitar os empórios da Fenícia. Ir às cidades do Egito, aprender com um
povo que tem tanto a ensinar. Veríamos com prazer a fundação do primeiro porto,
o Vocacional Memória, trazer uma alegria nunca vista.
Por que, então, não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?
É que
os bárbaros chegam hoje
e os aborrecem
arengas, eloquências.
Na segunda reunião elegemos três eixos. Três objetos
de investigação que coletivamente desejávamos nos debruçar. Para falar melhor
sobre política e estética. Para retomar o papel da Ágora, aquele lugar da
manifestação de qualquer um, adequado à constituição política do Projeto. A praça pública destinada ao exercício da democracia. Local
de reuniões e assembléias onde os gregos
discutiam assuntos ligados à polis. Oportunidade de decidir sobre temas ligados
ao artístico-pedagógico, à estrutura do Programa, às leis... O lócus da
constituição do nosso corpolíticoletivo.
Por que nos organizamos tão urgente
e em coro solene tomamos assento,
no auditório do oitavo andar ou no Cine Olido?
É que os bárbaros chegam hoje,
e nós
contamos lhes saudar.
Temos
pronto para dar-lhes
um
pergaminho no qual estão escritos
nossas propostas e reivindicações.
As
perguntas são muitas para tão escassas respostas. Contamos na terceira reunião com
a presença do chefe do Departamento de Expansão Cultural para nos elucidar. Também
já havíamos contado no ano anterior com a presença do Secretário de Cultura. Também
fomos em busca de respostas na Câmara dos Vereadores...
Todo o processo é
feito de incertezas. Toda a jornada tem sempre um quê de mistério, não sabemos
exatamente onde iremos chegar. Temos a todo o momento Ítaca na mente, estamos
predestinados a ali chegar. Com essa certeza, esperamos novamente na Ágora os
bárbaros que vão chegar. Temos pressa, termos urgência! Estamos reunidos mais uma
vez!
Mas, por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido a Ágora se esvazia
e todos voltam para casa preocupados?
Porque é já noite, os bárbaros não vêm
e
gente recém-chegada das fronteiras
diz
que não há mais bárbaros.
Jamais saberemos quem eles são...
Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.
Ipojucan Pereira da Silva – Coordenador do Projeto Teatro Vocacional.
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